Êxodos (2022)
O território da zona norte da cidade de São Paulo é rico em tecnologias sociais e culturais. Sampleando constantemente as múltiplas Áfricas e Américas presentes e ali vividos no dia a dia, aglutina várias outras formas de viver amefricanamente, que são ali praticadas e vindas de outras partes do país. Esses fluxos e refluxos dentro da grande São Paulo atravessam o histórico familiar do artista Ramo, onde é possível praticar um devir afropaulistano, presente também em seu trabalho e na história de muitos moradores das margens de toda grande metrópole. Esse devir é conectado pelas linhas do trem, especialmente a linha de Jundiaí a Santos, onde o largo da banana costurou sambas, pernadas, samba de bumbo, visualidades e afrobrasilidades até a cidade dormitório de Mauá e além. Nessa pesquisa são apresentadas conexões poéticas e estéticas entre os bairros da Vila Maria, Canindé, Carandiru e etc, assim como também com suas escolas de samba Unidos do Peruche e Unidos de Vila Maria. Suas potências, seus paradoxos e suas disputas pela terra, justaposições éticas e estéticas afropaulistanas, são permeadas pelo desdobrar do verbo construir que o artista pesquisa. Como afirma Bell Hooks, estar na margem é fazer parte do todo, mas fora do corpo principal.
Ramo.
Curador
1- Ato ou efeito de samplear. “Sample nada mais é do que a amostra de sons, sendo eles trechos (ou partes inteiras) de músicas já existentes, instrumentos de forma isolada ou até sons do “dia a dia”, como o trem passando nos trilhos, uma buzina ou a chuva no telhado”. Acesso: https://kondzilla.com/explicando-em-detalhes-o-que-e-sample/
2 – Termo utilizado e cunhado pela autora Lélia Gonzalez no texto: A categoria político-cultural de Amefricanidade. In: Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro. 1988
3 – bell hooks. Teoria feminista da margem ao centro.